23/02/2024 às 15h11min - Atualizada em 23/02/2024 às 15h11min

Motoboy negro e morador branco são indiciados por lesão corporal no RS; sindicância descartou racismo

Polícia Civil também indiciou o motoboy por desobediência. Caso ocorreu no sábado (17), no bairro Rio Branco, em Porto Alegre.



 

A Polícia Civil e a Brigada Militar (BM) apresentaram, nesta sexta-feira (23), os resultados das apurações sobre o caso do motoboy negro agredido com um canivete e detido logo em seguida em Porto Alegre, no sábado (17).

No inquérito policial, houve o indiciamento do entregador Everton Henrique Goandete da Silva e do morador Sérgi Camargo Kupstaitis por lesão corporal de natureza leve. Everton também foi indiciado por desobediência por resistir à prisão.

Já a sindicância da Brigada Militar que apurou a conduta dos PMs afirma que não houve agressão nem racismo por parte dos agentes, portanto, que não houve crime militar ou crime comum.

No entanto, a sindicância apontou que houve uma transgressão disciplinar quando os policiais permitiram que Sérgio fosse ao apartamento sozinho e não o levaram detido no porta-malas da viatura, da mesma forma que Everton foi levado. O homem branco foi conduzido a uma delegacia no banco traseiro de uma viatura.

Dois dos quatro policiais que atuaram na abordagem estão afastados do policiamento das ruas.

A defesa de Everton disse ao Wechannel que iria aguardar a apresentação das conclusões para se manifestar. Ao longo da semana, a RBS TV procurou Sérgio, que não respondeu aos contatos. A Polícia Civil afirma que ele não constituiu defesa no caso.

O fato ocorreu no sábado, quando Everton, de 40 anos, acabou contido pelos policiais, enquanto Sérgio, de 71 anos, o homem apontado por testemunhas como o agressor, só foi detido posteriormente.

Na segunda-feira (19), Everton comentou a abordagem da Brigada Militar. "Foram para cima de mim como se eu fosse um saco de lixo. E eu não sou um saco de lixo. Eu sou um trabalhador como todo mundo que tem nessa rua", disse.

 

Relembre o caso

 

A BM, que é a polícia militar do Rio Grande do Sul, abordou um motoboy negro que sofreu um golpe de canivete no pescoço no sábado (17), em uma rua do bairro Rio Branco, em Porto Alegre.

Testemunhas que estavam no local e gravaram a ação dos PMs afirmam que o entregador foi rendido e algemado enquanto o homem branco, apontado como o agressor, não.

Everton da Silva foi colocado no porta-malas de uma viatura policial. Já Sérgio Camargo conseguiu ir até seu apartamento, vestir uma camiseta e deixar o canivete no imóvel. Só depois ele foi algemado e colocado no banco de trás de outro carro da polícia.

 

Ambos foram levados para uma delegacia, onde foi feita a ocorrência de lesão corporal, e foram liberados. O homem negro ainda denunciou que houve racismo por parte da BM.

Everton sofreu escoriações no pescoço, que teriam sido provocadas pelo canivete; já Sérgio sofreu escoriações na perna.

A suposta diferença no tratamento aos envolvidos motivou um protesto de motoboys no domingo (18) e também repercutiu nas redes sociais.

 

Ministério da Igualdade Racial: 'episódio ilustrativo'

 

O Ministério da Igualdade Racial (MIR) considera que o caso do motoboy negro detido pela polícia após ter sido agredido com um canivete em Porto Alegre é um episódio "ilustrativo" do que é o racismo.

Em entrevista ao Wechannel, o diretor de Políticas de Combate e Superação do Racismo do MIR, Yuri Silva, disse não ser necessário que exista uma ofensa racial para que o caso seja visto como um episódio de racismo.

"O motoboy era vítima, estava sendo agredido por um homem branco e, ao chamar a polícia, ele é preso e conduzido como se ele fosse o agressor. Não tem nada mais ilustrativo e representativo do que é o racismo do que um fato como esse. Ele não precisava ser chamado de 'macaco' para que aquilo se configure um crime de racismo", afirma.

A suposta diferença no tratamento aos envolvidos motivou protestos e críticas nas redes sociais. A ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco afirmou, no domingo (18), que "as imagens causaram revolta, com razão, pelos indícios de racismo institucional".

Yuri Silva disse que a pasta acompanha as investigações do caso e que atua junto a outros ministérios para promover ações de letramento antirracista nas polícias. O diretor de Políticas de Combate e Superação do Racismo do MIR ainda aponta que o governo federal vai verificar a aplicação de medidas disciplinares aos PMs envolvidos na abordagem.

"Os policiais foram afastados, essa é a primeira resposta, mas não é suficiente. É preciso que as sanções disciplinares sejam levadas adiante, mas também que as ações de conscientização, formação e sensibilização, como eu falei, sejam prioridade para que esses próprios agentes possam repensar sua postura e que outros não venham a cometer o mesmo tipo de ação", destaca.

 

Depoimentos

 

Os quatro policiais militares envolvidos na abordagem prestaram depoimento à Polícia Civil na terça (20). Dois dos agentes foram afastados da atuação nas ruas. Um inquérito policial militar aberto pela Brigada Militar (BM) apura as condutas dos PMs. O advogado Fábio Silveira, que defende três policiais, afirma que não houve preconceito na ação.

O motoboy Everton da Silva já foi ouvido pela Polícia Civil e pela BM. "Foram para cima de mim como se eu fosse um saco de lixo. E eu não sou um saco de lixo. Eu sou um trabalhador como todo mundo que tem nessa rua", disse.

Em depoimento à Polícia Civil, Sérgio Camargo Kupstaitis alegou que existiria um conflito entre as partes. O idoso estaria incomodado com o barulho e a aglomeração dos motoboys no entorno do local em que mora.

De acordo com a delegada Rosane de Oliveira, o idoso admitiu ter atacado o motoboy com uma faca. Em reação, o entregador teria atirado duas pedras contra a perna do morador da rua.

Segundo a polícia, laudos confirmam que o motoboy teve escoriações no pescoço e o aposentado, na perna e no tornozelo.


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