A seca prolongada e "fora do normal" nos rios da Amazônia, que tem castigado milhares de moradores na região, está relacionado, segundo especialistas, à combinação de dois fatores que inibem a formação de nuvens e chuvas: o El Niño (que é o aquecimento do oceano Pacífico) e a distribuição de calor do oceano Atlântico Norte.
E o cenário não é animador: a previsão é de mais estiagem nos próximos meses, atrasando o início da estação chuvosa, que começaria a partir de outubro.
No estado do Amazonas, por exemplo, a Defesa Civil prevê uma seca recorde neste ano. Dos 62 municípios, 17 já estão em situação de emergência e 39, em alerta. O governo federal, em parceria com o local, criou uma força-tarefa para lidar com problemas como a navegação de embarcações prejudicada pelas áreas rasas dos rios.
Geralmente, setembro é o mês em que a seca é mais sentida na Bacia Amazônica. No entanto, neste ano, a situação está atípica, de acordo com os meteorologistas.
O Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), ligado ao governo federal, explica que, "apesar de o reflexo dos dois fenômenos ocorrerem em regiões diferentes da Amazônia, o aquecimento das águas do oceano desencadeia um mecanismo de ação similar sobre a floresta". Ou seja, ambos reduzem as chuvas na região.
“O evento do Atlântico Tropical Norte está se somando ao El Niño. Dois eventos ao mesmo tempo são preocupantes. Tivemos isso entre 2009 e 2010, que foi a maior seca registrada na bacia do rio Negro nos últimos 120 anos”, afirma o meteorologista Renato Senna, responsável pelo monitoramento da bacia amazônica no Inpa.
Segundo Dolif, a última seca na região foi em 2016, justamente em decorrência do último El Niño, registrado em 2015 e 2016 .
Atuação do El Niño:
Aquecimento do Atlântico Tropical Norte:
Combinação desses dois fatores:
“Esse ar mais quente atua inibindo a formação de nuvens e, por consequência, das chuvas”, afirma Senna, do Inpa.
Uma nota conjunta do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA) e Centro Nacional de Gerenciamento de Riscos e Desastres (Cenad) aponta para um fim de ano (outubro, novembro e dezembro) mais seco na região Norte.
Segundo os órgãos, "a previsão indica o predomínio de condições mais secas do que o normal, com destaque para a região amazônica".
No Sul do país, que tem sofrido com as enchentes, a expectativa é de chuva acima da média, conforme o mapa abaixo.
O impacto de eventos extremos, como as chuvas no Sul e, agora, a seca na Bacia Amazônica, foi citado pela ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, ao participar da abertura de uma oficina sobre mudanças climáticas nesta quinta-feira (28).
"O que está acontecendo no Rio Grande do Sul e agora no estado do Amazonas é a demonstração em três dimensões de que os eventos climáticos extremos já estão nos afetando de forma assustadora e dramática", afirmou.